segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Aquilo menos tudo*

A gente abusa das mãos dadas no cinema, ainda mais quando chove ou faz frio. O ombro dele é meu, o meu é dele, e tudo vai bem assim já há uns bons meses. Ele faz coisas que eu curto, tipo não me deixar dirigir, enfiar o cartão na carteirinha de couro sem nem me deixar ver a conta e imitar minha compulsão pela minha franja. Eu faço coisas que ele gosta, tipo carinho na perna, servir mais vinho quando o garçom some e ficar que nem monga alongando enquanto ele corre e paquera peruas acéfalas no parque. E nada disso me enlouquece, considerando que tem semanas que ele some e eu nem mesmo percebo. Quer dizer, perceber eu percebo, mas não chego a sofrer por isso. Talvez um pouquinho, mas um pouquinho eu já sofro só de fazer a troca de ar dentro das minhas narinas. O fato é: nada até aqui é culpa ou desleixo ou abuso dele e isso possibilita nosso lindo e calmo relacionamento sem pau.
Algumas mulheres acreditam no sexo com o pau amigo, o homem limpinho que aparece de vez em quando só pra dar uma comidinha e tchau. Eu acredito no sexo com o amigo sem pau. O homem que aparece de vez em quando e te busca em casa, abre a porta do carro, elogia sua roupa, escolhe os melhores ingressos, faz você morrer de rir, conversa sobre tudo, dá conselhos, cuida de você, sobe com você até seu apartamento, curte um som, dorme de conchinha, te abraça forte e…vai embora. Isso sim é dar uma, ao meu ver. O trepar e jogar fora da mulher é se sentir amada sem ter que dar.
Pau nunca pode ser amigo, pense bem. Experimente encontrar, sem querer, seu pau amigo num jantar romântico com uma mulher. Você não gosta do cara, não quer namorar o cara, ele é mala, burro, ele é só um pau. Você só usa o cara e está super segura nesse papel. Mas só porque você e ele, juntos, dividiram um pau, algo dentro de você, ainda que pequeno (pois é) quer ir até a mesa do fulano e fazer um escândalo: ahhhhhh me comeu e agora tá com outraaaaaaaa! Como assiiiiiiim seu desgraçaaaadoooo! Se bobear dá até pra chorar de rímel borrado achando que é amor. Mulher e pau não são compatíveis. Homem é a melhor companhia do mundo, acreditem, mas o pau dele não. Pau é a desgraça humana. É o elemento descentralizador do controle da alma. É o conflito personificado numa espada de guerra. É o fim de tudo. Pau amigo é coisa de sapatona.
Enfim, mas voltando ao meu melhor amigo. Esse ser maravilhoso que mexe no meu cabelo, e paga tudo, e me elogia, e me abraça, e me aperta e vem aqui em casa sempre tão perfumado e tomamos vinho e falamos de tudo e...simplesmente não rola pau… ahhh... eu acho que vou matar esse idiota.

*Texto de Tati Bernardi extraído do blog dela (http://www.tatibernardi.com.br/) Vale a pena conferir. Tati é ótima!

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