terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

-Um copo de suco por favor.

No balcão do bar era a única cliente. Não importava o sabor do suco, na verdade, nada mais importante do que estar se afogando em seus pensamentos. Há dias não dormia, tinha olhos, literalmente, de ressaca, mas não iguais ao de Capitu. Resolveu isolar-se em uma mesa no canto do bar, longe dos olhares do garçom, que tentava entender o pedido inusitado às 2 da manhã. Alguns casais dançavam sem música. E ela questionou o quanto era preciso para estar ali, naquele lugar, sentindo a leveza do que é estar apaixonada. Ela não sabia, nunca soube, vivia de relações efêmeras. -Era intimidade demais acordar na mesma cama que outra pessoa. Dizia ela. Leitora assídua de Milan Kundera, construiu, sem perceber, a versão feminina de Tomas. Era fuga, ausência de algo que nunca existiu, solidão. Era dor de não ter o que sentir. Frio. Pensava nos motivos que a trouxeram até o bar. Uma vontade insconsciente de não se sentir tão só. Os cadernos todos rabiscados já não tinha espaço para tantas estórias que nunca aconteceram. Escrever foi a forma que encontrou de se envolver, embora, nada fizesse muito sentido. Queria encontrar um jeito de mudar aquela situação, achou que saindo de casa, podia ser um bom começo. O pensamento, entretanto, não permitia mais ninguém. Àquela noite, foi a primeira vez em que pensou na possibilidade de ter algum envolvimento, talvez porque dias antes conheceu alguém como ela, fugaz. Queria entender como deixou que ele entrasse em sua vida sem pedir permissão. Pela primeira vez, não sabia o que fazer, o que dizer. Pensou em ir até a casa dele e gritar tudo o que sentia, mas ela não tinha voz. Era o silêncio que gritava dentro dela. Nunca havia sentido nada parecido, como podia então ter certeza que era paixão? O dia já estava amanhecendo, quando ela resolveu ir embora. E o copo de suco, ainda pela metade, como sempre fora a vida dela, até aquele instante.

2 comentários:

  1. Srta Adriana se este texto for de sua autoria, posso lhe afirmar, esta perdendo tempo.
    A intensidade das descrissoes me fez sentir no local vivendo a experiencia!!
    Gostei muito..

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  2. Obrigada. =)
    É meu sim. Mas ainda me acho amadora.
    ;)
    ;**

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